A fim de explorar a
nova cidade, aproveitou a hora do almoço e saiu. Queria caminhar, mas tinha um
destino: comida boa e barata. Sentia saudades do restaurante popular do lugar
onde há pouco morava e agora era saudade.
Só precisava saber como
chegar, o resto daria conta. Uns passos adiante, parou no homem que conserta
relógios, era muito provável que ele conhecesse um lugar baratinho. Dito e
feito, de pronto ele indicou o caminho a seguir, o que ela fez prestando bem
atenção para saber como fazer o caminho de volta.
Bancas de fruta; água
de coco a dois reais – achou bom esse preço da água de coco; o “shopping” da
panela, que vendia de um tudo de panelas e mini churrasqueiras... Caminhava
atentando para essas particularidades da rua, mas temia estar indo pelo caminho
errado quando percebeu estar numa subida íngreme, com carros estacionados dos
dois lados.
Tornou a perguntar a um
estranho sobre o restaurante de comida barata e a informação dizia que era por
ali mesmo. Andou mais um pouco e estava na praça onde o segundo e prestativo
estranho previra. Embora com o estômago gritando de fome, parou uns instantes
para contemplar a praça com imóveis antigos e o teatro daquela cidade. A visão
lhe agradava, mas sua urgência era outra.
A praça era o centro de
um emaranhado de ruas, o que lhe confundiu um pouco a direção; assim, perguntou
dessa vez ao homem na lanchonete, afinal de contas, onde ficava o tal
restaurante barato, mas de muita caminhada. Após essa derradeira indicação,
enfim chegou à esquina falada.
Um labirinto! Era o que
o lugar aparentava. Mas, enfim havia chegado e tomou seu lugar na fila para
comprar o tíquete de três reais; fila esta que fazia cobrinha e acomodava gente
de tudo quanto é jeito: bem vestidos e maltrapilhos; gente jogando no celular na
maior das alturas, feito fossem surdos; adolescentes com suas mochilas nas
costas; mulher reclamando da demora... Todos com o seu cotidiano apressado e
ela reclamando da demora.
Um bom tempo na tal
fila e se deu conta desse tempo ter sido em vão. Viu pessoas entregando os
tíquetes em troca das suas bandejas e só então percebeu que ali era a fila da
comida... a compra do tíquete era em outra canto. Que lástima! Conseguiu
promessa de não perder a vaga na fila enquanto corria pra comprar o bilhete, o
que teria sido realizado com imenso sucesso se não houvesse apenas um
derradeiro, alcançado aos gritos por uma moça que parecia mil vezes mais
esfomeada que ela.
Verdadeiramente aquele
não seria um “meiodia” para almoços baratos. Era preciso voltar, que o cotidiano
não é de acalmar urgência. Falou firme com o choro para que não ousasse
escapulir naquele momento de imensa frustração e saiu do emaranhado de vozes e
fomes.
A fome? Nada que aquela
água de coco não amansasse... acompanhada de um coxinha de um real.
Reconto do texto de Maitê Vieira,
cuja crônica foi compartilhada
enquanto acontecia,
de forma sentimentalizada e poética.
Abraços.
Milene Lima.
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