quinta-feira, 8 de agosto de 2019

AO MEIO DIA, A CIDADE


A fim de explorar a nova cidade, aproveitou a hora do almoço e saiu. Queria caminhar, mas tinha um destino: comida boa e barata. Sentia saudades do restaurante popular do lugar onde há pouco morava e agora era saudade.

Só precisava saber como chegar, o resto daria conta. Uns passos adiante, parou no homem que conserta relógios, era muito provável que ele conhecesse um lugar baratinho. Dito e feito, de pronto ele indicou o caminho a seguir, o que ela fez prestando bem atenção para saber como fazer o caminho de volta.

Bancas de fruta; água de coco a dois reais – achou bom esse preço da água de coco; o “shopping” da panela, que vendia de um tudo de panelas e mini churrasqueiras... Caminhava atentando para essas particularidades da rua, mas temia estar indo pelo caminho errado quando percebeu estar numa subida íngreme, com carros estacionados dos dois lados.

Tornou a perguntar a um estranho sobre o restaurante de comida barata e a informação dizia que era por ali mesmo. Andou mais um pouco e estava na praça onde o segundo e prestativo estranho previra. Embora com o estômago gritando de fome, parou uns instantes para contemplar a praça com imóveis antigos e o teatro daquela cidade. A visão lhe agradava, mas sua urgência era outra.

A praça era o centro de um emaranhado de ruas, o que lhe confundiu um pouco a direção; assim, perguntou dessa vez ao homem na lanchonete, afinal de contas, onde ficava o tal restaurante barato, mas de muita caminhada. Após essa derradeira indicação, enfim chegou à esquina falada.

Um labirinto! Era o que o lugar aparentava. Mas, enfim havia chegado e tomou seu lugar na fila para comprar o tíquete de três reais; fila esta que fazia cobrinha e acomodava gente de tudo quanto é jeito: bem vestidos e maltrapilhos; gente jogando no celular na maior das alturas, feito fossem surdos; adolescentes com suas mochilas nas costas; mulher reclamando da demora... Todos com o seu cotidiano apressado e ela reclamando da demora.

Um bom tempo na tal fila e se deu conta desse tempo ter sido em vão. Viu pessoas entregando os tíquetes em troca das suas bandejas e só então percebeu que ali era a fila da comida... a compra do tíquete era em outra canto. Que lástima! Conseguiu promessa de não perder a vaga na fila enquanto corria pra comprar o bilhete, o que teria sido realizado com imenso sucesso se não houvesse apenas um derradeiro, alcançado aos gritos por uma moça que parecia mil vezes mais esfomeada que ela.

Verdadeiramente aquele não seria um “meiodia” para almoços baratos. Era preciso voltar, que o cotidiano não é de acalmar urgência. Falou firme com o choro para que não ousasse escapulir naquele momento de imensa frustração e saiu do emaranhado de vozes e fomes.

A fome? Nada que aquela água de coco não amansasse... acompanhada de um coxinha de um real.



Reconto do texto de Maitê Vieira
cuja crônica foi compartilhada 
enquanto acontecia, 
de forma sentimentalizada e poética.

Abraços.

Milene Lima.



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